O presidente Jair Bolsonaro disse nesta quarta-feira (22), questionado sobre a ordem de prisão contra seu ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, que o ex-ministro é quem deve responder por eventuais irregularidades à frente do MEC
"Isso aqui, se tem prisão, é Polícia Federal, é sinal de que a Polícia Federal está agindo. Ele responda pelos atos dele. Peço a Deus que não tenha problema nenhum. Mas, se tem algum problema, a PF está agindo, está investigando, é um sinal que eu não interfiro na PF, porque isso aí vai respingar em mim, obviamente", afirmou Bolsonaro em entrevista à rádio Itatiaia.
A Polícia Federal deflagrou uma operação nesta manhã para prender Ribeiro. Quando Bolsonaro deu a declaração, a polícia já tinha o mandado contra o ex-ministro, mas ainda não havia a confirmação de que a prisão havia sido efetivada. A confirmação ocorreu minutos depois. Também foram alvo da operação os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura.
A PF investiga Ribeiro por suposto favorecimento aos pastores e a atuação informal deles na liberação de recursos do ministério. Há suspeita de cobrança de propina. Ribeiro foi demitido do MEC, em março, em razão dessas denúncias.
Porém, antes da demissão, quando as denúncias já haviam se tornado públicas, Bolsonaro chegou a dizer que colocaria "a cara no fogo" por Ribeiro.
"O Milton, coisa rara de eu falar aqui. Eu boto minha cara no fogo pelo Milton, minha cara toda no fogo pelo Milton. Estão fazendo uma covardia com ele", declarou Bolsonaro na ocasião.
No dia em que Ribeiro foi demitido do MEC, quem também saiu em defesa dele foi a primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Questionada por repórteres sobre o caso, ela disse: "Deus sabe de todas as coisas e vai provar que ele [Milton Ribeiro] é uma pessoa honesta".
Denúncias de corrupção
Na entrevista à Itatiaia, Bolsonaro disse ainda que não é possível ele controlar o que fazem todos os seus ministros e pessoas com cargos no governo. A ordem de prisão contra Milton afeta uma das principais propagandas que Bolsonaro busca fazer de sua gestão: a de que não há corrupção no governo.
"Eu tenho 23 ministros, tenho mais uma centena de secretários, mais de 20 mil cargos em comissão. Se alguém faz algo de errado, vai botar a culpa em mim? Vinte mil pessoas. Logicamente a minha responsabilidade é afastar e colaborar na investigação. Pode ter certeza que essa investigação, além da PF -- não interfiro -- deve ter Controladoria-Geral da União, um ministério meu, ajudando para elucidar o caso", disse o presidente.
Bolsonaro disse ainda que o governo não compactua com eventuais irregularidades cometidas por Ribeiro e que, se o ex-ministro for culpado, deve pagar por isso.
"A questão do Milton. Lamento. A imprensa vai dizer que está ligando a mim, etc. Paciência. Se tiver algo de errado, ele vai responder. Se for inocente, sem problema. Se for culpado, vai pagar. O governo colabora com a investigação. A gente não compactua com nada disso", afirmou Bolsonaro.
Investigações
O inquérito foi aberto após o jornal "O Estado de S. Paulo" revelar, em março, a existência de um "gabinete paralelo" dentro do MEC controlado pelos pastores. Eles não tinham cargo no governo, mas dispunham de livre trânsito no MEC.
Dias depois, o jornal "Folha de S.Paulo" divulgou um áudio de uma reunião em que Ribeiro afirmou que, a pedido de Bolsonaro, repassava verbas para municípios indicados pelo pastor Gilmar Silva.
"Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar", disse o ministro no áudio.
"Porque a minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar", complementou Ribeiro.
Em depoimento à PF, no fim de março, Ribeiro confirmou que recebeu o pastor Gilmar a pedido do presidente Jair Bolsonaro. No entanto, Ribeiro negou que tenha ocorrido qualquer tipo favorecimento.
Redação do blog com G1