Os registros de crimes raciais cresceram mais de 400% no primeiro trimestre deste ano no estado de São Paulo. Os números estão em um levantamento feito pela TV Globo, com base na Lei de Acesso à Informação, que também apontam 279 boletins de ocorrência na capital paulista nesse mesmo período, o que representa 720% a mais do que o registrado no mesmo período do ano passado. Veja os números:
Registros de crimes raciais
- Cidade de São Paulo (1ºtri. 2023) - 279 casos ?? 720%
- Estado de São Paulo (1ºtri. 2023) - 656 casos ?? 408%
A delegada Ivalda Aleixo explica que há uma percepção tanto do aumento do incentivo pela denúncia como do aumento de casos.
"A gente tem essa percepção aqui na delegacia de Crimes de Intolerância de que a violência também aumentou, mas por conta das redes sociais, esses apoios que eles recebem, se cria coragem para fazer o Boletim de Ocorrência. Então, aumentamos o (número de) boletim, mas, com certeza, essa violência teve também aumento", diz.
Para o professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Juarez Xavier, o cumprimento da lei é essencial para que as denúncias sejam feitas.
"O fato de o Supremo Tribunal Federal ter tornado equivalente o crime de injúria ao crime de racismo fez com que as pessoas observassem a possibilidade de não ter impunidade nas denúncias. Isso fez com que ampliasse, na nossa opinião, o número de pessoas que denunciam na expectativa de que esse crime não fique impune", disse.
Esse foi o sentimento do contador Átila Vieira, surpreendido por ofensas racistas de um cliente no supermercado.
"Ele falou assim: 'seu macaco, seu preto safado'. Olhei bem na cara dele e disse: 'repete, repete isso'. Aí ele apontou para a minha cara e disse: 'é isso mesmo, seu preto, seu macaco'", relembra o contador.
O contador Átila Vieira denunciou a agressão que sofreu em um supermercado. — Foto: TV Globo/Reprodução
Átila já tinha passado por situações semelhantes na vida, mas foi a primeira vez que decidiu registrar um boletim de ocorrência. "Você se sente meio impotente, né? Eu não queria falar isso, mas é verdade. Mas eu consegui as forças dentro de mim mesmo, porque essa luta não é só minha", diz.
"Eu só gostaria que um dia os negros do Brasil pudessem ir ao supermercado comprar seu alimento e fazerem suas compras, voltarem para suas casas seguramente. Só isso, só isso, nada mais", desabafa Samuel.
Em relação à denúncia de Átila Vieira, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo disse que o delegado aguarda o depoimento de uma testemunha para encerrar o inquérito e indiciar, ou não, o suspeito.
Da Redação com g1