"Não vamos dosar a pílula. Vai ser mais difícil sem os Estados Unidos. Vai depender muito de como os outros países vão se portar sabendo que simplesmente essa é a nova realidade que todos vão ter agora que enfrentar para assegurar a manutenção e a integridade do acordo multilateral. Que tipo de acordo podemos ter sobre NCQD diante disso que agora é um fato. Todas as partes vão ter que, com muita maturidade, debater sobre a quantidade de recursos, sabendo que esse grande player não vai estar na mesa", diz Ana Toni.
"Acho que os países desenvolvidos vão ter de pôr ainda mais dinheiro na mesa do que eles já previam ou gostariam, e os países em desenvolvimento também, pensando na expectativa que eles teriam", complementou.
O mesmo ela acredita que vai valer para o momento crucial que vai ocorrer na COP do ano que vem, em Belém, quando os países têm de apresentar suas novas metas de redução de emissões. Hoje, sabe-se que mesmo se todos os compromissos apresentados no Acordo de Paris forem cumpridos, o mundo ainda vai aquecer 2,6°C, o que pode ser catastrófico
"No ano que vem, já com o governo Trump, que tipo de acordo é possível fazer sem uma potência? Acho que alguns outros países vão ter que aceitar a sua liderança no processo internacional. A China, óbvio, já está fazendo isso. O Brasil, também está fazendo isso. E obviamente os europeus", defende Ana Toni. Para ela, será necessária uma acomodação das partes "a esses desvios momentâneos".
"A mudança do clima é uma coisa permanente, já está conosco e vai ficar conosco pelo menos mais 100, 200, 300 anos. Então, as relações internacionais têm que começar a ser capazes de blindar o regime de clima desses soluços temporários, porque requer uma abordagem multilateral", diz.
A questão, obviamente, é o tempo. Temos tempo para esses vai-e-vens? Esses atrasos de ação? Essa reacomodação necessária? Se já está difícil com todo mundo a bordo, temos disposição para aumentar ainda mais os esforços para resolver essa lacuna?
Nesta quinta-feira, sistemas de monitoramento da temperatura média do planeta – o europeu Copernicus e a Organização Meteorológica Mundial –, anunciaram que 2024 muito provavelmente vai terminar como o ano mais quente do registro histórico, batendo o recorde que tinha sido atingido no ano passado. A realidade é que a situação está piorando muito rapidamente. Vai ser preciso dar um jeito nisso, com ou sem os Estados Unidos. Giovana Girardi [email protected] Chefe da Cobertura Socioambiental |