No dia 28 de outubro, mais do que um prêmio deixou de ser entregue. Foi uma data que simbolizou, para muitos, a exclusão de um sonho que inspira meninos negros em qualquer campo de futebol espalhado pelo mundo. A não-entrega do prêmio de Melhor Jogador do Mundo ao brasileiro Vinicius José Paixão de Oliveira Junior, do Real Madrid, um dos favoritos ao título, serviu como um doloroso lembrete de que o racismo ainda impõe barreiras que vão além das linhas do campo.
Vinicius Junior, ou Vini Jr., transcende o simples papel de jogador de futebol. Ele representa uma geração que acredita na superação das dificuldades por meio do talento e da determinação. Suas habilidades, velocidade e técnica em campo são qualidades inquestionáveis que fizeram dele um dos jogadores mais brilhantes da temporada. E, no entanto, mesmo com um desempenho estelar, ele não viu seu nome gravado no topo do futebol mundial. Isso desencadeou um choque, e o impacto dessa decisão se fez sentir como um eco entre os milhares de meninos que se identificam com ele, com sua história e sua luta.
Mas o que esse episódio simboliza? Para aqueles que acompanham a trajetória de Vini Jr., não se trata apenas de uma ausência entre troféus e aplausos. Estamos falando de um jovem que, além de enfrentar a pressão do esporte de alto nível, encara diariamente uma batalha ainda mais dura: o racismo. Ele foi alvo de ofensas racistas em campo diversas vezes na última temporada, e essas ofensas ecoaram, dia após dia, sem que houvesse uma resposta à altura para conter tais atrocidades. A ausência de Vinicius Junior no palco da Bola de Ouro representa, para muitos, uma resposta silenciosa — e não uma que orgulha o futebol.
Ser negro e se destacar no futebol significa carregar não só os sonhos próprios, mas também os de toda uma comunidade que enxerga no esporte um portal de oportunidades e realizações. Para meninos negros, que frequentemente enfrentam uma realidade de exclusão e preconceito, ver alguém como Vini Jr. ascender ao topo é uma luz que indica que eles também podem ir além. Mas, quando ele é subestimado ou deixado de lado, o que fica é o recado amargo de que, ainda que o esforço e o talento sejam gigantescos, a cor da pele pode, sim, ser uma barreira difícil de transpor.
Por mais que o futebol tenha uma base que prega inclusão e união, situações como essa revelam o quanto ainda temos a evoluir. O esporte carrega consigo a responsabilidade de oferecer igualdade de condições, de garantir que o mérito seja o critério final. E, embora a popularidade do futebol esteja crescendo em diversidade, o poder de decisão permanece, em grande medida, com aqueles que enxergam o mundo ainda por uma lente que marginaliza e desmerece histórias como a de Vini Jr.
Não é surpresa, portanto, que a reação diante da ausência de Vinicius tenha sido imensa. Em diferentes partes do mundo, manifestações e palavras de repúdio ao racismo ressoaram como uma forma de dizer que não aceitamos mais a omissão ou a desculpa do "isso não é tão sério". Sim, é sério. E cada criança que olha para Vinicius Junior não está apenas admirando seu futebol; está vendo a possibilidade de ir além, de alcançar um status que muitos disseram ser impossível. Quando essa promessa é quebrada por uma decisão questionável, cada um desses sonhos é atingido.
Na verdade, o futebol é apenas um reflexo de questões mais amplas que precisamos enfrentar. Ao deixar Vinicius Junior de lado, o que foi ensinado, em uma noite, a milhares de jovens, é que o racismo ainda permeia as maiores celebrações de nosso tempo. As instituições esportivas, e aquelas que as patrocinam, têm o poder de transformar a realidade. E, embora tenhamos avançado, há muito ainda a fazer. A superação não virá apenas pelo talento em campo, mas pela transformação dos valores fora dele.
Esse é o caminho que devemos trilhar. O reconhecimento que faltou a Vinicius Junior neste prêmio deve ser um lembrete de que o esforço para erradicar o racismo ainda tem uma longa estrada pela frente. O sonho de ver nossos meninos negros erguerem a cabeça em direção ao sucesso precisa ser incentivado, e o talento precisa ser visto além da cor. O que se perdeu nesta noite, infelizmente, foi mais do que um troféu: foi a chance de dar ao mundo uma aula de humanidade e justiça, uma lição que o futebol deveria representar, mas que ainda falha em proporcionar plenamente.
Esse é o compromisso que devemos cobrar de quem tem o poder de decidir, para que cada garoto que sonha com a Bola de Ouro possa, um dia, vê-la ao seu alcance, sem que nenhuma cor ou preconceito o impeça de alcançá-la.
Por: Paulo Pereira