Opinião - A eleição nos Estados Unidos sempre desperta o interesse global. Para além dos votos e dos slogans, o pleito americano funciona como um espelho de aspirações, ansiedades e esperanças. E, para nós, brasileiros, observar as escolhas do país ao norte pode ser uma experiência transformadora. As divisões, os temas em pauta, e até mesmo os personagens eleitos, tudo isso ecoa em nossa realidade de modo peculiar. Mas o que a eleição americana realmente diz sobre os "democratas" brasileiros – aqueles que, de um lado ou de outro, defendem princípios democráticos?
As eleições americanas têm nos mostrado o quanto uma sociedade pode ser polarizada. O Brasil não escapa desse fenômeno, e a divisão entre diferentes visões políticas aqui parece cada vez mais intensa. A maneira como os partidos americanos lidam com a polarização é um alerta para nós: a necessidade de canais de diálogo é urgente. Sem uma ponte entre as diferenças, a democracia corre o risco de enfraquecer. Aqui, precisamos de esforços genuínos para transcender os "nós contra eles" e fomentar uma cultura de debate, sem medo de estender a mão para o diálogo.
A presença da desinformação é outro fator que aproxima as democracias americana e brasileira. As eleições nos EUA trouxeram novamente à tona o poder das fake news e do discurso distorcido. Essa realidade não é estranha ao Brasil, onde as informações circulam rapidamente, muitas vezes sem a devida checagem. Isso é um alerta claro: se a democracia é, em última análise, uma troca de ideias, que qualidade têm as ideias que circulam hoje? Os "democratas" brasileiros, sejam eles cidadãos, políticos ou lideranças, precisam urgentemente se comprometer com uma comunicação mais transparente e responsável.
Há outro ponto interessante que podemos observar nas eleições americanas: o avanço, mesmo que ainda tímido, de figuras representativas de minorias. Isso reflete o amadurecimento de uma democracia que começa a perceber a necessidade de que o poder represente de fato o seu povo. No Brasil, esse é um campo que ainda precisa ser melhor explorado. Nossos "democratas" ainda precisam dar voz e espaço para minorias raciais, sociais e de gênero. Representar uma sociedade diversa significa dar passos reais para que essa pluralidade esteja presente nas mesas de decisão, não apenas nos discursos.
Nos Estados Unidos, a taxa de participação eleitoral é um ponto sempre discutido. No Brasil, temos uma vantagem: o voto obrigatório nos permite números expressivos de participação, mas isso não se traduz, necessariamente, em uma participação consciente. Observar a motivação dos americanos para ir às urnas é um lembrete para nós: não basta apenas comparecer, é preciso participar de forma informada, atenta, crítica. Os "democratas" brasileiros têm que enxergar o voto como uma responsabilidade coletiva e não apenas como um ato isolado.
Talvez o maior ensinamento que possamos tirar da eleição americana seja a oportunidade de refletir sobre o estado da nossa própria democracia. A democracia é um organismo vivo, que exige cuidado, atualização e compromisso constante. Se queremos fortalecer os "democratas" brasileiros, precisamos aprender com as experiências globais e adaptar essas lições à nossa realidade. E que, assim como nos Estados Unidos, possamos construir uma democracia que respeite as diferenças, promova o diálogo e represente de fato o povo brasileiro em toda a sua pluralidade.
Por: Paulo Pereira
M. API