Partimos dessa pergunta para refletirmos sobre alguns aspectos da promessa de Estado de bem-estar social, o desmanche dessa promessa e seus atuais frangalhos. Será esse Estado que encontraremos se ganharmos as eleições de 2022. O que exigirá lutarmos por um tipo de transição da centralidade do mercado ter liberdade para lucrar sem limites para um projeto de sociedade onde seu centro seja atender todas as necessidades da vida humana em equilíbrio com a natureza. Esse centro requer outro Estado a ser construído.
Nos anos de 1930, inaugurou-se no Brasil a promessa de integração das grandes massas populares na sociedade salarial de direitos. Uma versão com vários filtros como a carteira de trabalho assinada, alimentando uma lógica social de hierarquia e separação entre os trabalhadores formais e informais, além dos filtros de gênero e raça.
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Mesmo assim essa promessa se verificava concreta na forma de mobilidade social. Ainda que sob a precarização, havia a chance de as seguintes gerações terem acesso à educação e às novas oportunidades. Havia uma ideia de país e uma esperança.
Desde os anos de 1990, essa promessa começa a ser desmontada e desmoralizada. Através da reestruturação da produção, com as aberturas comerciais, o novo padrão tecnológico, robotização, terceirizações, flexibilizações e retirada de direitos.
Esse pântano patronal e político do capitalismo neoliberal precisou de um golpe de Estado em 2016 para impor a superexploração do trabalho com a reforma trabalhista, desmontando o que restava da promessa de inclusão social.
Por isso, estas eleições são diferentes. Por sua condição de alterar o rumo da "gestão do descarte humano". Não temos o direito de não nos defender. Precisamos participar de modo ativo destas eleições, buscando compreender as lógicas das propostas e dos rumos do Estado brasileiro e suas leis, regras, orçamentos diretos e secretos e suas instituições.
Nos prepararmos para disputar uma transição para um Estado voltado para criar as condições para que identidades diversas da classe que vive do trabalho possam, estas sim, prosperar rumo a uma vida humana boa, justa e em sintonia com a natureza em sua plenitude de dignidade e de felicidade.
Não temos nada a perder, a não ser esse pântano de desprezos e desesperanças!
*Socióloga, integrante da coordenação nacional do Movimento das Trabalhadoras e dos Trabalhadores por Direitos (MTD).
**Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Fonte: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Ayrton Centeno