Opinião - Por anos, o Brasil foi vendido como a terra das oportunidades, o país que respirava a esperança de um futuro próspero. Mas, hoje, a realidade é outra: o Brasil não respira mais. "É tudo pra ontem", como diz Emicida, é o resumo da nossa pressa sem direção, da urgência que consome nossas riquezas, nossas florestas, nossa vida.
De norte a sul, de leste a oeste, o Brasil está em chamas. As imagens de queimadas que varrem a Amazônia, o Pantanal, o Cerrado, deixam de ser exceções para se tornarem rotineiras. No meio dessa destruição, eu me pergunto: ainda acreditamos no progresso? Nos discursos de governantes que repetem promessas vazias de desenvolvimento sustentável, enquanto nossa terra é arrasada?
A verdade é dura: estamos entrando e saindo de um ciclo de morte silenciosa. Morremos um pouco a cada dia, sufocados por uma névoa de descaso e ignorância. A natureza, que por tanto tempo sustentou nossa riqueza, agora clama por socorro, mas não há quem a ouça. A cada árvore caída, a cada animal sem lar, sentimos o peso do fim se aproximando.
"Viver é partir, voltar e repartir", canta Emicida. Só que, no Brasil de hoje, a morte se tornou tão comum quanto viver. O fogo que consome nossas florestas destrói mais do que árvores. Ele consome nosso futuro, nosso sentido de coletividade, e, sobretudo, nossa capacidade de resistir. Tragédia já não causa comoção — ela virou rotina. Acostumamo-nos a ver o fogo levar o que nos resta de humanidade.
Há quem ainda acredite na reconstrução, mas a verdade é que o tempo está acabando. A ilusão de um desenvolvimento sustentável, repetida como mantra por aqueles que governam, não se sustenta mais. É um discurso vazio, uma esperança que não se materializa. Não temos mais tempo, e esse "ontem" que tanto cobramos pode ser o último suspiro antes do colapso total.
A sensação é de que estamos correndo em círculos, sempre com pressa, mas sem direção. O "tudo pra ontem" se aplica ao Brasil que desmorona, ao país que não consegue respirar. Talvez seja hora de reavaliar o que significa, de fato, repartir. Porque, do jeito que estamos indo, em breve não haverá mais o que dividir.
O fogo não é só literal. Ele está nos consumindo por dentro também. Na destruição ambiental, vemos refletida nossa falência coletiva como sociedade. O Brasil, que já foi símbolo de riqueza natural e cultural, agora é sinônimo de destruição. E assim vamos morrendo aos poucos, sem sequer ter tempo de entender o que estamos perdendo.
Em um país que não respira, resta apenas a cinza do que já fomos um dia.
Por: Paulo Pereira
