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Lula, Israel e Palestina: sobram afirmações e faltam aprofundamentos

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Foto: imagem ilustrativa

Há alguns dias, estava comentando com um amigo sobre a dificuldades dos debates atuais, tomados por palavras de ordem e afirmações taxativas, de considerarem as diversas nuances, aspectos e implicações que circundam qualquer assunto que envolva relações sociais e políticas. Na ânsia de se posicionar e demarcar um lado, falta o aprofundamento necessário para qualificar o debate e entender suas múltiplas dimensões. Em suma, nada é tão "preto no branco".

É dessa forma que enxergo a recente polêmica em torno da fala do presidente Lula sobre a guerra entre Israel e Palestina. De um lado, grande parte da esquerda referendou na íntegra a fala do presidente e, de outro, a direita a rechaçou completamente. No entanto, cumpre a analistas sérios pautar o assunto com sobriedade, carregando a compreensão de que um tema como este afeta muitas vidas, direta ou indiretamente envolvidas pelo conflito. Não vou tentar aqui explicar a origem do conflito ou suas razões, mas abordar a fala de Lula e onde ela acerta e erra.

A fala de Lula se insere num contexto internacional de aumento da pressão por um cessar-fogo, abarcando cada vez mais vozes do Ocidente e do chamado Norte Global, afora os países orientais e do Sul Global, que sempre foram refratários ao ataque de Israel. Cabe sim discutir se Israel comete ou não um genocídio contra os palestinos (pessoalmente, acredito que sim) e o Brasil não é a única voz a cobrar por essa responsabilização, tampouco a primeira. Nesse contexto, a fala de Lula é acertada, pois não se pode contemporizar com ataques perpetrados por uma potência militar que vitima principalmente mulheres e crianças e dificulta a assistência humanitária e hospitalar. No entanto, Lula erra ao comparar o que acontece em Gaza ao Holocausto, primeiro porque o método, o contexto e as razões são muito diferentes e segundo porque fere a luta e a história do povo judeu, que ainda trata esse trauma e, ao mesmo tempo, envolve todo um povo num conflito que não é inteiramente apoiado por eles -vale lembrar que o atual governo israelense enfrenta sérias resistências da população-. Respeitadas as devidas dimensões, seria como responsabilizar toda a população brasileira pelo genocídio que, infelizmente, permanece sendo praticado contra o povo indígena yanomami.

De toda forma, o erro de Lula não justifica a reação oportunista e exagerada por parte do governo de Israel, que aproveita a ocasião para tentar conter a crescente onda de rechaços internacionais e levantar espantalhos, como o de que Lula seria um negacionista do Holocausto.

Num contexto local, a fala de Lula se revela desnecessária por ainda mais motivos, a começar pela mancha que coloca sobre a diplomacia brasileira, reconhecida internacionalmente de forma positiva pela equidistância e moderação diante de temas espinhosos e delicados. Nesse mesmo conflito, o Brasil liderou pelo exemplo ao propor na ONU uma resolução de cessar-fogo apoiada por todos os países e vetada unicamente pelos Estados Unidos (por motivos inconfessáveis) e nas negociações do resgate de brasileiros residentes em Gaza. Politicamente, mobilizou a oposição, que estava acuada diante das investigações da tentativa de golpe e agora pauta o debate e se mobiliza por um processo de impeachment que sabemos que não acontecerá, mas aumenta os custos de negociação com um Arthur Lira já insatisfeito com a articulação política do governo.

Portanto, reforço: falta muita maturidade e sobra oportunismo nas muitas análises publicadas nas mídias e redes sociais sobre um assunto delicado e que envolve muitos aspectos, dos nacionais aos globais. Com essa coluna, espero contribuir de forma qualitativa para auxiliar quem porventura estiver perdido entre tantas afirmações absolutas e pouco elucidativas.

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