No último domingo, dia 5, a atriz Fernanda Torres ganhou o prêmio Globo de Ouro por sua interpretação da advogada Eunice Paiva no filme Ainda Estou aqui, de direção de Walter Salles. Para celebrar esta conquista histórica para a nossa cultura, reúno aqui alguns trabalhos da carreira de Fernanda Torres, aos quais já tive o prazer de conhecer antes da premiação. Precisamos conhecer mais da vida e obra dessa atriz, escritora, diretora(e outros adjetivos mais!) fenomenal. Portanto, espero que esta coluna seja um bom ponto de partida para quem quiser esmiuçar mais o valoroso legado de Fernanda Torres.
Para começar, o romance Fim, publicado por Fernanda Torres em 2014. Narra a trajetória de um grupo de amigos cariocas, ao longo de décadas. Uma trama que envolve frustrações, amadurecimentos, a ideia de finitude da vida e a tragédia dos relacionamentos amorosos. Cada capítulo é narrado sob a perspectiva de uma personagem do grupo, permitindo a quem lê uma visão íntima e ao mesmo tempo diversa. É uma leitura deliciosa e profundamente dramática, pois envolve emoções carregadas de êxtases, dores e angústias. Com o romance, Fernanda Torres ganhou o prêmio Jabuti em 2018, que é a maior premiação literária brasileira. Abaixo, um trecho do livro que destaquei quando li em 2023:
O romance Fim foi adaptado e roteirizado para uma série pela própria Fernanda Torres, sendo lançada pela Globoplay no segundo semestre de 2023. A série é bastante fiel à narrativa do livro e consegue envolver pelo enredo, ambientação das décadas de meados do século XX e por atuações brilhantes, principalmente de Fábio Assunção e Marjorie Estiano, que ganhou o prêmio de "Melhor Atriz" nos Melhores do Ano da TV Globo, pela interpretação da personagem Ruth. A série está disponível no Globoplay.
Amor e Sorte foi uma das melhores coisas que assisti durante o período da pandemia. Cada episódio da série traz a perspectiva de um casal convivendo no isolamento, com episódios estrelados por Thaís Araújo e Lázaro Ramos, Caio Blat e Luisa Arraes, Emílio Dantas e Fabíula Nascimento e um com Fernanda Torres e Fernanda Montenegro. É uma série divertida, simples e realista por ter sido gravada no próprio período da pandemia. O episódio com Fernanda Torres e Fernanda Montenegro ganhou um especial de Natal também. A série está disponível no Globoplay.
Sobre Tapas e Beijos nem preciso falar muito, porque é uma série que já virou mania nacional. Protagonizada por Fernanda Torres e Andréia Beltrão nos papéis de Fátima e Sueli, a série mostra o cotidiano de duas amigas que vivem às turras com seus relacionamentos e com a rotina de trabalho no Djalma Noivas, uma loja situada no bairro de Copacabana. A série tem o sucesso reconhecido pela interpretação extremamente carismática das protagonistas e de todos as personagens envolvidas na narrativa, como Armani, Jorge, Seu Chalita e Jurandir. Tapas e Beijos diverte porque consegue retratar o cotidiano de duas mulheres trabalhadoras sem qualquer pretensão de soar complexo ou imaginar personagens que reproduzam algum tipo ideal. São o que são, com seus dilemas, falhas de caráter e paixões. Este é o grande barato.
Fernanda Torres também escreve colunas e crônicas pro jornal Folha de São Paulo. Como sou assinante do jornal há anos, já li algumas de suas publicações, que vão de temas sociais, artísticos, políticos e cômicos, todos bem ao jeito Fernanda Torres de ser e viver, são palavras que o leitor lê e sabe que apenas uma mente repleta de uma lucidez límpida que só o desprendimento característico de alguém como Fernanda Torres conseguiria escrever. A coluna destacada abaixo, por exemplo, marcou época.
Como não preciso falar de Ainda Estou Aqui, deixo como menção honrosa o álbum "Carlos, Erasmo" lançado por Erasmo Carlos em 1971, que é o melhor álbum de Erasmo e um dos mais importantes da música brasileira. Além de incluir "É preciso dar um jeito, meu amigo" que está na trilha sonora do filme, conta com outras canções maravilhosas como Gente Aberta, De Noite Na Cama e Masculino, Feminino, que é a minha preferida do álbum, vale muito a pena escutar.
A premiação de Fernanda Torres no domingo é a prevalência da arte sobre a opressão e a caretice que ainda hoje tentam resgatar em nosso país. É a vitória do melhor que nós temos e somos sobre o pior que nós podemos ser. Sabe por que Bolsonaro e sua turma não comemoram essa vitória tão importante para a nossa cultura e memória ? Porque estão ao lado daqueles que prenderam, torturaram, mataram e esconderam o corpo de Rubens Paiva e de milhares de outras famílias que tiveram suas vidas interrompidas pela repressão. Portanto, é mais uma oportunidade de reforçar o nosso repúdio, ódio e nojo a essa gente. É sem anistia!
Aqui, vocês puderam ver a diversidade da cultura e do fazer artístico brasileiro em torno de uma só figura, da Fernanda Torres. Imaginem, então, o quanto nossa arte é diversa e poderosa, capaz de resgatar nossa autoestima, divertir e unificar sentimentos em suas demonstrações. Quem, por despeito ou preconceito não se permite conhecer, é porque ainda não entendeu NADA sobre a vida e suas possibilidades de maravilhamento. Aqui, encerro. Viva Fernanda Torres e a cultura brasileira!