O ator Milton Gonçalves faleceu nesta segunda, 30, por causa de complicações de um AVC que sofreu em 2020. Milton tinha 88 anos e uma longa carreira, construída principalmente na televisão. Nascido em 9 de dezembro de 1933, na cidade mineira de Monte Santo, mudou-se para São Paulo com a família ainda criança, onde se encantou com o teatro e começou a dar os primeiros passos como ator, depois de trabalhar como aprendiz de sapateiro, de alfaiate e de gráfico. Sua primeira peça profissional foi “Ratos e Homens”, no Teatro Arena. Na sequência, esteve em uma representação de “Eles Não Usam Black-Tie”, também nos palcos. Já no ano seguinte, teve sua primeira participação no cinema, um pequeno papel em “O Grande Momento”. Ele seguiu atuando nos palcos e participou do especial “O Vigilante Rodoviário”, da TV Tupi, em 1961. Em 1965, recebeu o convite para formar o primeiro elenco de atores da Globo, antes mesmo da emissora ser fundada.
Milton chegou à nova emissora a convite do ator e diretor Otávio Graça Mello, com quem havia trabalhado no filme “Grande Sertão”. Naquele mesmo ano, participou das primeiras experiências de dramaturgia da Globo, como o seriado “Rua da Matriz”, de Lygia Nunes, Hélio Tys e Moysés Weltman, e as novelas “Rosinha do Sobrado” e “Padre Tião”, de Moysés Weltman, além de programas humorísticos. Em 1970, teve as primeiras experiências como diretor na novela “Irmãos Coragem”, na qual também atuou. Ao longo da década, interpretou, por exemplo, o Professor Leão, no infantil “Vila Sésamo” (1972), e o Zelão das Asas de “O Bem-Amado (1973)”. Esteve nas primeiras versões de “A Grande Família” (1972), “Escrava Isaura” (1976), além de séries como “Carga Pesada” (1979) e “Caso Verdade” (1982-1986). Outros sucessos dos quais participou foram “Roque Santeiro” (1985) e “Pecado Capital” (1975), no qual marcou época por representar o psiquiatra Dr. Percival, um médico renomado, com vários cursos internacionais, em uma época em que atores negros muitas vezes eram relegados a papéis como escravos e empregados. Ele próprio pediu o papel à autora Janete Clair, com a intenção de permitir que garotos negros possam sonhar em estudar e se formar. Também dirigiu os primeiros episódios de “Selva de Pedra” (1972).
Ao longo das décadas, participou de diversos outros sucessos da Globo, incluindo as novas versões de “Irmãos Coragem” (1995), e “Sinhá Moça” (2006). Mais recentemente, participou de temporadas da novela “Malhação” e das séries “Carcereiros”, “Filhas de Eva” e “Se Eu Fechar os Olhos Agora”. A última novela foi “O Tempo Não Para” (2018), e o último filme, “Pixinguinha – Um Homem Carinhoso”, lançado em 2021. Um marco na carreira de Gonçalves foi ter sido o primeiro ator brasileiro a apresentar o Emmy , prêmio mais prestigiado da televisão mundial— ao lado da americana Susan Sarandon, indicou o vencedor da categoria de melhor programa infanto-juvenil em 2006. Bastante ligado à causa racial, Milton também chegou a se lançar candidato ao governo do Estado do Rio de Janeiro em 1994, pelo PMDB, sem obter sucesso; mais tarde, usou da experiência para compor o personagem Romildo Rossi, um político corrupto, em “A Favorita” (2008). No total, atuou em mais de 40 novelas, além de trabalhos em filmes, séries, peças de teatro, programas humorísticos e outros formatos de dramaturgia.
Fonte: Jovem Pan