A guerra na Ucrânia e os conflitos no Oriente Médio estão intrinsecamente ligados, com múltiplos interesses e ações ocorrendo simultaneamente, segundo Mário Machado da Silva Filho, professor e consultor em Relações Internacionais do Instituto Monitor da Democracia.
Desde a Guerra Civil do Líbano (1975-1990), a Rússia fortaleceu sua aliança com a Síria, buscando ampliar sua influência na região. A intervenção russa na Guerra da Síria (2011) foi crucial para sustentar o regime de Bashar al-Assad por mais de 13 anos.
A base naval russa de Tartus, na Síria, é estratégica, fornecendo acesso ao Mediterrâneo e servindo como ponto de apoio para operações navais. A Rússia também interveio na Síria para combater grupos terroristas, como o Estado Islâmico, que poderiam ameaçar a segurança nacional russa.
"Oriente Médio e Ucrânia mostram claramente como conflitos possuem múltiplos interesses e níveis de ação acontecendo simultaneamente." concluiu Mário Machado da Silva Filho.
O apoio russo a Assad levou a uma aproximação com o Irã, considerando a presença iraniana na região. Em contrapartida ao apoio russo, o Irã forneceu mísseis balísticos para a Rússia na guerra contra a Ucrânia, de acordo com a mídia internacional.
"Pode-se observar o jogo das grandes potenciais EUA e Organização Tratado Atlântico Norte (Otan) buscando conter e dificultar a ação Russa e ao mesmo tempo uma estratégia russa de oferecer assistência e suporte a atores que trabalham para dificultar interesses dos EUA e seus aliados europeus." observou Silva Filho.
Os EUA, por sua vez, mantêm alianças com Israel, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos para contrabalançar a influência russa e iraniana, buscando também combater grupos terroristas e influenciar o equilíbrio de poder na região. O apoio à Ucrânia serviu, talvez inesperadamente, para minar as forças russas e seus aliados.
Com o desgaste russo na Ucrânia e o enfraquecimento do Irã devido às respostas de Israel em 2024, os rebeldes sírios derrubaram a ditadura de Assad em 8 de dezembro de 2024.
A ascensão de Donald Trump à presidência dos EUA trouxe uma mudança de postura. Trump criticou os fundos norte-americanos para a Ucrânia e anunciou negociações para o fim da guerra após conversar com Putin.
"A resistência ucraniana alimentada pelo apoio financeiro e de materiais vindos da Europa e EUA tem se mostrado um desafio logístico para a Rússia, fazendo que esse país se valha de materiais bélicos iranianos e da Coreia do Norte." disse o professor.
O fim do conflito na Ucrânia permitiria que a Rússia atuasse mais livremente no Oriente Médio, mas também a obrigaria a repensar suas ambições, buscando evitar um novo desgaste militar.
*Reportagem produzida com auxílio de IA