Dona de personagens marcantes na TV e no cinema, Glória Pires adiciona mais um relevante em sua carreira graças a seu impecável trabalho em "A Suspeita". A atriz de 58 anos interpreta uma policial que investiga um esquema de corrupção, mas que sofre com graves problemas de saúde. O filme estreia nesta quinta-feira (16).
No longa, Lúcia é uma condecorada comissária da Polícia Civil. Ao lado do parceiro Paulão (Alexandre Rosa Moreno), ela tenta descobrir o paradeiro do traficante Beto (Daniel Bouzas) por meio de escutas. No meio da investigação, a policial descobre que o bandido está ligado a um esquema de corrupção do qual pode fazer parte alguns de seus colegas.
O problema é que Lúcia foi diagnosticada com Mal de Alzheimer e sua memória começa a falhar, complicando ainda mais o seu trabalho e deixando sua vida em perigo. Mas a policial resolve correr contra o tempo para resolver aquele que pode ser o último caso de sua carreira antes que o pior aconteça.
Lúcia (Glória Pires) é uma policial sofrendo de Alzheimer no filme "A Suspeita" — Foto: Desireé do Valle/Divulgação
Jogo da Memória
"A Suspeita" marca a estreia de Glória Pires como produtora e de Pedro Peregrino como diretor no cinema. Em seu primeiro trabalho em longas, o cineasta mostra competência para construir boas cenas dramáticas e de ação.
Amparado por uma edição interessante, assinada por Joana Collier, Peregrino busca fazer o espectador se sentir como se estivesse na mente da protagonista, especialmente quando ela tem momentos de confusão e não consegue ter certeza o que está vendo ou com quem está falando.
O resultado, embora não seja espetacular como o mostrado em "Meu Pai" (que deu o Oscar a Anthony Hopkins), deixa a clara a competência da dupla.
Lúcia (Glória Pires) investiga um esquema de corrupção em "A Suspeita" — Foto: Desireé do Valle/Divulgação
Além disso, vale destacar a boa fotografia de Fabrício Tadeu. Ele consegue mostrar de maneira eficiente como as imagens na mente de Lúcia vão ficando lentamente desfocadas e distorcidas.
É clara a sensação de que algo vai se perdendo à medida que a doença avança e demonstra como a comissária se esforça para não se esquecer do que está vendo. Essa espécie de jogo da memória é essencial para que ela consiga concluir sua investigação, mesmo com sua saúde debilitada.
A parte menos inspirada do filme é o roteiro, de Thiago Dottori, sem desenvolver bem a trama policial e sem criar surpresas ou reviravoltas mais impactantes. A história segue um curso normal e não fica muito difícil descobrir quem está por trás do esquema de corrupção que Lúcia investiga. As questões envolvendo os efeitos do Alzheimer na protagonista é que se tornam o grande destaque do filme. Mas a trama criminal poderia ser melhor desenvolvida.
Talento inesquecível
Gustavo Machado e Glória Pires numa cena de "A Suspeita" — Foto: Desireé do Valle/Divulgação
Glória Pires brilha como a comissária de "A Suspeita" e consegue transmitir muito bem o sofrimento de sua personagem por saber que não pode confiar na própria memória. Ela está prestes a se tornar uma sombra da policial exemplar que se tornou por causa de sua doença.
A atriz também convence nas cenas em que percebe as coisas que perdeu por se dedicar ao trabalho, como construir uma família, o que lhe causa uma angústia mostrada de forma genuína.
Por sua performance, Glória levou o Kikito de Melhor Atriz do Festival de Gramado de 2021. O restante do elenco, como Gustavo Machado (o delegado Gouveia, amigo de Lúcia), Charles Fricks (o chefe da Polícia Civil), e Genézio de Barros (Padre Walter, tio da comissária) estão bem em seus papéis. Dão bom apoio para a protagonista.
"A Suspeita" se revela como um bem-acabado filme nacional, sem apelar para clichês ao mostrar os efeitos do Alzheimer. E isso é um grande mérito.
Lúcia (Glória Pires) luta contra doença para investigar crime em "A Suspeita" — Foto: Desireé do Valle/Divulgação
Fonte: Da Redação com G1