Tive o prazer de acompanhar a edição 2022 do Wisdom 2.0, num modelo híbrido com plateia e transmissão on-line, nos dias 7 e 8. Soren Gordhamer, seu criador, diz que o objetivo da iniciativa é aprender a viver com a tecnologia sem que ela nos engula: "precisa estar casada com o coração", afirmou na abertura do evento, que contou com a música hipnótica de Laura Inserra. Utilizando instrumentos tradicionais, como flautas e tambores, a artista siciliana se define, sem falsa modéstia, como uma alquimista do som. Seu trabalho é tão impressionante que vale a pena conhecê-lo, clicando aqui.
Jon Kabat-Zinn: "só estamos vivos no exato momento no qual nos encontramos" — Foto: Divulgação
E no que consiste o Wisdom 2.0? O encontro de dois dias mergulhou na reflexão sobre o excesso de estímulos que vem nos tirando do eixo, discutiu seu impacto em nossa saúde mental e explorou o potencial da prática de mindfulness para restaurar o equilíbrio. Ao assistir o vídeo que registra o atendimento de estudantes de uma escola do Recife, que foram socorridos durante uma crise coletiva de ansiedade, me veio a certeza de que estamos todos muito necessitados de ferramentas para superar as incertezas e angústias da contemporaneidade.
A artista siciliana Laura Inserra durante apresentação no Wisdom 2.0 — Foto: Reprodução
Jon Kabat-Zinn, fundador da Clínica de Redução de Estresse e do Centro de Atenção Plena da faculdade de medicina da Universidade de Massachusetts, realizou a primeira prática: para os participantes, em San Francisco, e todos os que estavam sintonizados – inclusive eu, no Rio de Janeiro. Como pontuou, "temos que transcender a noção convencional de estar presente num cômodo, o ambiente é o planetário". Desde a década de 1970, quando começou a estudar como a meditação poderia ajudar pacientes com dor crônica a sofrer menos, o médico se tornou a maior referência do mindfulness.
Aludindo ao enorme sofrimento no mundo, ao mencionar das mudanças climáticas à invasão da Ucrânia, Kabat-Zinn enfatizou a importância de "mergulhar em nós mesmos em silêncio", que caracteriza a atenção plena do mindfulness. "Só estamos vivos no exato momento no qual nos encontramos. Quando entramos num estado de silêncio, quietude e atenção, parece, para quem vê de fora, que não está acontecendo nada. No entanto, internamente estamos em contato com nosso verdadeiro superpoder: a consciência", ensinou, acrescentando que ninguém deve se preocupar em esvaziar a mente, mas sim em deixar pensamentos e emoções fluírem sem julgamento. "Engana-se quem acha que vai ter uma experiência especial, extraordinária, durante o mindfulness. O que a prática nos leva a entender é que, momento após momento, todas as experiências são relevantes. Isso nos ajuda a conviver com as coisas e situações como elas são, com os desafios e dificuldades que existem, mudando a forma de nos relacionar com o que nos cerca", finalizou.
Russell Glass, CEO da Headspace Health: "40% das pessoas sofrem com ansiedade e depressão. Abaixo dos 25 anos, esse percentual chega a 48%" — Foto: Stanford University
Russell Glass, CEO do Headspace Health, resultado da fusão do Headspace, aplicativo voltado para a meditação diária, e do Ginger, que fornece terapia on-line, contou que sua própria trajetória é uma prova do poder do mindfulness: "tinha acabado de vender uma empresa, o que, em tese, indicava meu sucesso, mas me sentia ansioso, não conseguia dormir, nem me dedicar aos meus três filhos. Depois de começar a meditar dez minutos por dia, a mudança foi radical. Era quase como se me visse de fora, observando os gatilhos que, antes, me faziam sair do sério, entrar em conflito". Glass afirmou que os dados mundiais sobre saúde mental são sombrios: "40% das pessoas sofrem com ansiedade e depressão. Na faixa entre 18 e 25 anos, são 48%. As pesquisas dizem que um em cada três filhos de um casal terá problemas, o que significa que, potencialmente, isso poderá acontecer na minha família". Para encerrar, lembro que há diversos tutoriais de mindfulness na internet. Vale tentar.
Fonte: Da Redação com G1