O sistema de cotas foi criado para diminuir desigualdades sócioeconômicas de um país cruel com negros, pobres, comunidades tradicionais. Foi criado para ampliar oportunidades de ascensão social para quem estuda numa escola pública com muitas deficiências e que coloca muitos a uns passos atrás.
O mecanismo de acesso às instituições públicas continua polêmico, mesmo com todos os benefícios identificados nos últimos anos.
Resultados positivos que foram registrados por pesquisas e estudos de órgãos internacionais; mas também visto no nosso dia a dia, com mudanças importantes, e muito significativas quando o olhar se volta para a representatividade.
O sistema não foi criado para satisfazer o ego, necessidades pessoais ou diminuir a frustração de quem quer que seja. Também não deve ser usado por quem não precisou dele, venceu na vida e quer provar para o mundo que é o "máximo".
Dito isso, não faz sentido, mesmo com a legalidade que possa existir, essa matrícula do reitor da Universidade Federal da Paraíba, Valdiney Velôso, no curso de Engenharia de Produção da UFPB, com aprovação por meio de cotas.
Valdiney estudou em escola pública décadas atrás e essa é a alegação dele para justificar a legalidade. Mas a posição social dele, a história de "sucesso profissional", seus títulos de mestre, doutor, pós-doutor, duas graduações e um salário de R$ 29.282,89 vão de encontro ao objetivo primeiro da lei das cotas.
O reitor já provou para os outros que pode. Aliás, conseguiu vencer na vida, mesmo com as adversidades que alega ter passado. Deve ter provado para si. Não precisa brigar com o MPF e ocupar as já abarrotadas gavetas do judiciário paraibano.
Laerte Cerqueira e Angélica Nunes