Após a terceira demissão de uma mulher entre representantes do alto escalão da Esplanada, a bancada feminina da base de apoio político do governo no Congresso tem criticado as trocas feitas pelo Palácio do Planalto. Pesa na avaliação delas também a substituição das mulheres por indicações de partidos do Centrão, antes aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro.
A economista Rita Serrano foi demitida da presidência da Caixa na quarta-feira (25) para dar lugar a Carlos Vieira Fernandes, indicado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). O PP apoiou Bolsonaro nas eleições de 2022.
Antes de Serrano, Daniela Carneiro (ex-Turismo) e Ana Moser (ex-Esporte) deram lugar a dois parlamentares homens indicados pelo União Brasil e PP respectivamente, legendas que compõem o Centrão. O governo justifica as trocas dizendo que precisa de mais apoio no Congresso.
Para a deputada Fernanda Melchionna (PSOL-RS), a demissão da presidente da Caixa "é lamentável" e enfraquece uma das promessas de campanha do presidente Lula, a de aumentar a representatividade feminina no governo.
"Partidos que até ontem estavam com Bolsonaro estarão em postos chave do governo, como um banco público, responsável por projetos sociais. Vai na contramão da política que queremos, fortalece o fisiologismo e enfraquece a paridade de gênero na política e no alto escalão, pauta pela qual lutamos há tanto tempo", afirmou.
Apesar das trocas, o governo Lula tem atualmente nove mulheres chefiando pastas na Esplanada, número maior que gestões anteriores.
São ministras do governo Lula:
- Cida Gonçalves (Mulheres);
- Luciana Santos (Ciência, Tecnologia e Inovação);
- Sonia Guajajara (Povos Indígenas);
- Anielle Franco (Igualdade Racial);
- Nísia Trindade (Saúde);
- Margareth Menezes (Cultura);
- Esther Dweck (Gestão e da Inovação em Serviços Públicos);
- Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima);
- Simone Tebet (Planejamento).
'Pressão permanente'
A deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) disse esperar que o governo possa recompor os cargos perdidos por mulheres no alto escalão.
"É escolha dele (Lula) as posições de proa do governo, mas nós mulheres não podemos ocultar nossa insaturação. A cobrança é permanente.", afirmou.
"No parlamento, entre as mulheres da base do governo, a posição é cotidiana para a ocupação de mais mulheres em posições de proa no governo. Há ainda muita pressão para o silenciamento das mulheres na política", acrescentou a deputada.
Ela conta que pretende se reunir com a presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PT-PR), a partir da próxima semana para apresentar uma proposta de reivindicação de direitos igualitários para a bancada.
"Essas demissões demonstram que nos enquanto parlamentares devemos estar atentas e entender que as ideologias políticas devem ficar de lado quando o assunto é direito das mulheres. Elegemos nas urnas direito das mulheres, devemos cobrá-los"
Em café da manhã com jornalistas nesta sexta-feira (27), Lula disse lamentar "profundamente" a perda de espaço de mulheres no governo e que tem "disposição política" para incluí-las em mais cargos. No entanto, afirmou que, nos casos recentes, os partidos que escolheram os nomes não tinham mulheres para indicar.
Fonte: Da Redação com g1