A socorrista Laura Cristina Cardoso, do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), afirmou que a família de um paciente não queria que ele fosse atendido por ela durante um atendimento no último dia 12, na região central de São Paulo. Nesta segunda-feira (21), é comemorado o Dia Internacional de Luta contra a Discriminação Racial.
Em nota, a A Prefeitura de São Paulo, por meio do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), disse que "lamenta o ocorrido e repudia qualquer caso de discriminação, com cunhos racistas e preconceituosos" (veja a nota completa abaixo).
Laura, que é enfermeira da Unidade de Suporte Intermediário, contou que atendia a um chamado para socorrer um idoso que passava mal quando familiares do paciente fizeram os comentários.
"E agora, filho? Ela é negra." Aí, o filho respondeu: "Tudo bem, mamãe. Ela está usando luvas", contou a enfermeira.
Laura contou que a mulher do idoso se assustou quando ela entrou no quarto para fazer os primeiros atendimentos. A socorrista disse que ficou chocada com o que ouviu, mas preferiu não reagir. Ela disse que só pensou em salvar o idoso que precisava ir para um hospital. O homem tem 90 anos e estava com rebaixamento do nível de consciência.
Em uma postagem nas redes sociais, ela contou sobre o ocorrido e disse que "a vítima foi devidamente atendida pelas minhas mãos negras enluvadas".
"Naquela hora, vendo aquele idoso passando mal, o que eu vou responder para uma pessoa dessa? Também não reagi por causa do meu juramento. O juramento da Enfermagem é proteger a vida desde a concepção até a morte. E eu faço isso. Protejo a vida. Mesmo a vida dos racistas. Qualquer outra atitude poderia colocar a vítima em risco", disse Laura.
"Então é respirar fundo, trincar os dentes e seguir em frente. Se você está perguntando por que essas pessoas receberam o melhor tratamento possível, eu respondo: quem elas são não muda quem eu sou", disse Laura.
Antes de iniciar o atendimento ao idoso, a equipe também foi questionada por familiares sobre a presença de um médico entre os socorristas, segundo o relato de Laura.
A enfermeira contou ainda que essa não foi a primeira vez que ela foi agredida verbalmente. "Pedem para a gente entrar pelo elevador de serviço, não tocar nos pacientes. Isso é muito comum", contou.
Laura não denunciou o crime. O advogado Fernando Brito disse que mãe e filho podem responder pelo crime de injúria racial. O crime é previsto no Código Penal, o qual estabelece punição de 1 a 3 anos de reclusão e multa para quem ofende a dignidade de outra pessoa utilizando elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, entre outros.
Discriminação contra enfermeiros
Segundo dados do Conselho Regional de Enfermagem e da Articulação Nacional da Enfermagem Negra, boa parte dos enfermeiros e técnicos em enfermagem que se declaram pretos ou pardos disse que já sofreu preconceito.
Enfermeira negra manipula vacina para o vírus H1N1 da gripe — Foto: Carla Carniel/Código 19/Estadão Conteúdo
Dentre os que trabalham em São Paulo, 64% dos entrevistados relataram que já perceberam racismo dentro da unidade de saúde onde eles trabalham, e 55% por cento disseram que a discriminação veio dos pacientes que eles estavam atendendo.
A maioria, 84%, não vê nenhuma prática antirracista no ambiente de trabalho.
Veja a nota da Prefeitura de SP:
A Prefeitura de São Paulo, por meio do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), informa que lamenta o ocorrido e repudia qualquer caso de discriminação, com cunhos racistas e preconceituosos. Casos deste tipo devem ser tratados com a máxima seriedade e em todos os âmbitos.
As providências necessárias estão sendo tomadas e o Samu encoraja e estimula os profissionais para que, em casos como esse, sejam notificados de imediato às chefias e às autoridades competentes.
Fonte: Da Redação G1