Primeiramente para compreender o termo intelectual é importante entender o contexto em que o termo foi criado. O termo surgiu no século XIX, momento em que a Historiografia apresentava-se muito alinhada às pesquisas de História Política e Social. Era um momento marcado por uma escrita de caráter positivista interessada em narrar os feitos heroicos de grandes personalidades.
Ao lado dessa conjuntura, sem serem muito prestigiados, atuavam os pesquisadores da História Cultural, que procuravam fazer um trabalho mais interdisciplinar aproximando a História de objetos até então pesquisados por outras áreas das ciências humanas. Somente na década de 70, a Nova História Cultural passou a ser apreciada e recebeu contribuições da Antropologia e Sociologia; nesse novo formato novos objetos de estudo passaram a fazer parte da História, como por exemplo, a História das memórias, do corpo, do gênero, das identidades, da representatividade, bem como a história dos intelectuais. O campo de pesquisa se amplia permitindo novas abordagens sobre o fazer História.
Respondendo ao post, intelectual vem a ser todo profissional que cria e produz um conhecimento capaz de interferir na realidade social.
Historicamente, o termo intelectual já era conhecido desde a segunda metade do século XIX devido ao manifesto J"acc use: lettre au président de La Ré publique , do autor Émile Zola, o que foi publicado no jornal Jornal L"Aurore em dezembro de 1898 (maiores informações no artigo de Tatiane Vargas Margraf, História intelectual e mediadores culturais: o caso dos professores da Educação Básica está na referência desta publicação).
O manifesto citado conta a história de um oficial judeu chamado Alfred Dreyfrus, suspeito de ter entregue uma documentação sigilosa à embaixada alemã. No desenrolar da história descobre-se a inocência de Dreyfrus, no entanto, o caso já havia mobilizado a opinião de diversos grupos sociais contrários à sentença, tais grupos passaram a ser chamados de intelectuais. Eram eles: os homens das letras, cientistas, escritores e universitários, que passaram a ser identificados por sua importância política na sociedade.
Conforme nos apresenta Margraf (2019) ao citar Sapiro (2012, p. 29):
"os intelectuais que se afirmam como categoria social no final do século XIX reivindicam sua capacidade de impor a definição legítima das problemáticas sociais de maneira independente das expectativas do poder político". (MARGRAF, 2019, pág. 204)
O caso do oficial judeu marcou o posicionamento político dos intelectuais que passaram a se afirmar como categoria social. Nesse sentido intelectual é aquele que faz parte de um grupo que possui engajamento político, ou como afirma Sartre, intelectuais são aqueles que ultrapassam o campo de sua competência em que suas problematizações científicas promovem transformações na sociedade. Para Gomes e Hansen (2016) citadas por Margraf (2019), intelectuais são produtores de conhecimento que podem estar vinculados direta ou indiretamente a intervenção política e social. Portanto o professor é um intelectual, pois produz conhecimento no espaço escolar não sendo apenas aquele que informa, mas aquele que criar e produz um saber em busca da transformação social.
Eu sou Lavini Castro
Educadora Antirracista
Mestre em Relações Étnico Raciais
Co-criadora da Marca Afrodiálogos
MARGRAF, Tatiane Vargas História intelectual e mediadores culturais: o caso dos professores da Educação Básica. In: Temporalidades – Revista de História, ISSN 1984 – 6 150, Edição 30, v. 11, n. 2 (Mai./Ago. 2019)
