Ao longo dos anos, o movimento LGBT+ tem sido uma força poderosa na luta por igualdade e direitos humanos. No entanto, ao navegar pelas complexidades dessa comunidade diversificada, torna-se claro que nem todos os membros são tratados de forma igualitária. Em particular, pessoas negras e de outras minorias étnicas muitas vezes enfrentam um racismo sutil, mas persistente, dentro do próprio movimento. Esta realidade desafia a integridade de nossa luta e nos obriga a enfrentar uma questão crucial: como podemos combater a discriminação externa sem reconhecer e erradicar a discriminação interna?
Quando penso em eventos como a "Parada Gay" em São Paulo e representações do movimento LGBT+, é notável a predominância de corpos brancos. Desde as paradas do orgulho até os principais representantes midiáticos, a visibilidade das pessoas negras é escassa. Isso não é por falta de presença, mas sim devido a uma exclusão sistêmica e cultural que permeia até mesmo os espaços que deveriam ser inclusivos por natureza.
Em várias ocasiões, testemunhei amigos negros sendo tratados como acessórios exóticos em festas e eventos LGBT+, frequentemente fetichizados e hipersexualizados. Eles não são vistos como indivíduos com complexidade e dignidade, mas sim reduzidos a estereótipos raciais. Essa fetichização é uma forma insidiosa de racismo que desumaniza e marginaliza.
Nas plataformas de encontros, a discriminação racial é flagrante. Perfis que explicitamente excluem pessoas negras, sob o pretexto de "preferências pessoais", são comuns. Frases como "não curto negros" ou "somente brancos" não são apenas preferências; são reflexos de preconceitos profundos. Esta discriminação não é menos dolorosa ou prejudicial por ser pessoal. Ela reitera a mensagem de que algumas vidas são menos dignas de amor e respeito, perpetuando a exclusão e a desumanização.
Para que o movimento LGBT+ seja verdadeiramente inclusivo, é fundamental reconhecer e combater o racismo em todas as suas formas. A interseccionalidade deve ser a base de nossa luta. Não podemos nos dar ao luxo de lutar por direitos para alguns enquanto ignoramos a opressão de outros dentro de nossa própria comunidade.
Devemos começar ouvindo as vozes das pessoas negras e das outras minorias étnicas dentro do movimento. Suas experiências e perspectivas são essenciais para criar um ambiente inclusivo e justo. Isso significa dar-lhes espaço nas lideranças, valorizar suas contribuições culturais e garantir que suas histórias sejam contadas e celebradas.
Além disso, é necessário um compromisso ativo para desafiar e desmantelar as estruturas racistas que existem dentro do movimento. Isso inclui educação contínua sobre racismo, tanto histórico quanto contemporâneo, e a promoção de uma cultura de responsabilidade e solidariedade.
A luta contra a discriminação não pode excluir ninguém. O racismo dentro do movimento LGBT+ não é apenas uma traição aos nossos valores, mas também uma barreira para a verdadeira liberdade e igualdade para todos.
Ao reconhecer e combater o racismo, fortalecemos nossa luta coletiva e avançamos em direção a uma sociedade onde todos, independentemente de sua orientação sexual, identidade de gênero ou cor da pele, possam viver com dignidade e respeito. Esta é a verdadeira essência do movimento LGBT+: uma luta pela humanidade de todos. Trago essa reflexão para que possamos ainda que de maneira simplória possamos alerta todas as formas de preconceitos, discriminações e racismos.
Por Paulo Pereira