Opinião - Há números que não mentem, e há números que indignam. Vamos falar de prioridades? Enquanto os auxílios voltados para a população mais vulnerável do Brasil – o Benefício de Prestação Continuada (BPC), o Bolsa Família, o Vale Gás, o Farmácia Popular e outros – somam R$ 60,8 bilhões ao ano, as Forças Armadas consomem R$ 86,8 bilhões e os incentivos fiscais às empresas, até agosto de 2024, já sugaram R$ 97,7 bilhões. Isso sem contar os R$ 44,67 bilhões reservados às emendas parlamentares no orçamento de 2024.
O contraste é gritante e, francamente, revoltante. Quem olha para esses números e sugere cortes nos auxílios aos mais pobres ou nos investimentos em saúde e educação parece ignorar que esses recursos são, muitas vezes, a diferença entre a vida e a morte, a fome e o prato cheio, o acesso ao remédio ou a angústia do desamparo.
O Benefício de Prestação Continuada (BPC), por exemplo, é um alívio para pessoas com deficiência e idosos que vivem na miséria. O Bolsa Família garante que milhões de famílias tenham o mínimo necessário para sobreviver. O Vale Gás e o Farmácia Popular aliviam um pouco o peso do custo de vida. E mesmo assim, quando o governo fala em contenção de gastos, são esses programas os primeiros a entrarem na mira.
Enquanto isso, ninguém ousa sugerir cortes nos privilégios das grandes empresas ou nos gastos militares. E as emendas parlamentares? Viraram moeda de troca para acordos políticos, deixando a população à mercê de interesses que raramente são os seus.
Essa discrepância de prioridades é mais do que uma questão de má administração; é um reflexo do desprezo por quem mais precisa. O Brasil é um país desigual, e manter essas desigualdades parece ser conveniente para alguns.
Cortar recursos de saúde, educação e segurança enquanto bilhões são despejados em incentivos fiscais para empresas é um escárnio. Manter privilégios enquanto se sacrifica quem já vive com o mínimo é, sem exagero, pornográfico.
Não dá para aceitar passivamente. Como cidadãos, é nossa responsabilidade compartilhar essas informações, pressionar nossos representantes e exigir transparência e justiça. O Brasil não pode mais ser um país onde os pobres pagam a conta dos ricos. E não devem – atingir quem mais depende do Estado. Se o orçamento é uma questão de escolhas, que nossas escolhas priorizem quem mais precisa.
Por Paulo Pereira