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Com avanço de rebeldes, Bashar al-Assad deixa Damasco, dizem agências

Ditador sírio abandonou capital e fugiu para lugar desconhecido após avanço dos rebeldes, que entraram em Damasco sem resistência. Queda de Homs deixa governo à beira do colapso.

Foto: Ascom
Foto: Ascom

Forças rebeldes anunciaram neste domingo (8) que o ditador sírio Bashar al-Assad deixou a capital Damasco, segundo informações de agências internacionais.

Bashar al-Assad deixou Damasco em direção a um destino desconhecido, segundo dois oficiais do Exército citados pela agência Reuters. Os rebeldes afirmam ter entrado na capital sem encontrar resistência militar.

Testemunhas relataram que milhares de pessoas, a pé e em carros, se reuniram na praça principal de Damasco, acenando e gritando "Liberdade".

Ainda segundo a Reuters, o primeiro-ministro sírio, Mohammad Ghazi al-Jalali, afirmou que permaneceu em sua casa e estava disposto a apoiar a continuidade do governo, após a fuga de Assad.

Em seguida, o líder rebelde sírio Ahmed al-Sharaa disse que está proibido se aproximar de instituições públicas, que, segundo ele, continuarão sob a supervisão do "ex-primeiro-ministro" até serem oficialmente entregues.

Em um pronunciamento ao vivo na TV local, os rebeldes comemoraram o que chamaram de "queda de Assad" e afirmaram estar libertando pessoas que foram injustamente presas durante o regime do ditador.

Cerco a Damasco: veja cronologia da ofensiva de rebeldes para derrubar Assad

Poucas horas antes, os rebeldes anunciaram o controle total de Homs, após um dia de combates, deixando o regime de 24 anos de Assad à beira do colapso (entenda sobre o conflito abaixo).

O líder da oposição síria, Hadi al-Bahra, baseado na Turquia, anunciou à Al Jazeera que representantes do grupo se reunirão com países árabes, europeus e a ONU para discutir e definir a próxima fase do processo político na Síria.

O jornal The New York Times informou que um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional afirmou que o presidente americano Joe Biden está "monitorando de perto os eventos extraordinários na Síria".

Mais cedo, antes da fuga de Assad, o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, que tomará posse em janeiro, afirmou que o país não deve se envolver no conflito.

Quem é Bashar al-Assad

Bashar al-Assad tem 59 anos e sucedeu no poder o pai, Hafez a-Assad, que morreu 2000 após governar a Síria por três décadas. Seu regime foi fruto de um golpe de Estado em 1971.

A família Assad é alauita, uma minoria religiosa xiita na Síria.

Nascido em 11 de setembro de 1965, em Damasco, estudou medicina e se especializou em oftalmologia. Em Londres, cursou uma pós-graduação.

Em 1994, Basil, seu irmão mais velho e sucessor natural de Hafez, morreu num acidente. Com isso, Bashar tornou-se o herdeiro do poder na família.

Em 10 de junho de 2000, ele foi declarado presidente pelo parlamento após um referendo popular no qual recebeu uma aprovação de 97,29%. Naquele momento, Bashar tinha 34 anos.

Em 2007, renovou seu mandato por outros sete anos em um referendo no qual obteve 97,62% dos votos. Em 2014, foi reeleito para um terceiro mandato de sete anos. A guerra civil síria já estava em curso e a votação foi realizada nas áreas controladas pelo governo.

A família Assad governa a Síria há mais de cinco décadas.

Entenda o conflito

Rebeldes extremistas chegam à terceira maior cidade da Síria e avançam em direção à capital

A capital Damasco é palco dos momentos decisivos na Síria que podem selar a queda do ditador Bashar al-Assad.

Segundo relatos de moradores de Damasco publicados pela imprensa internacional nas últimas horas, há membros das forças rebeldes circulando nos arredores da cidade e tiroteios ocorrendo em alguns pontos.

Neste sábado (7), o governo sírio acusou os insurgentes de espalharem informações falsas sobre o conflito para aterrorizar a população e criar instabilidade.

O ministro do Interior havia dito que teria um "cordão militar" para proteger Damasco. Até então, não havia informações sobre o paradeiro de Assad. Durante a semana, a imprensa americana noticiou que Egito e Jordânia haviam recomendado a ele sair do país.

Em uma ofensiva iniciada há apenas 10 dias a partir do Norte, forças lideradas pelo movimento extremista Hayat Tahrir al-Sham (HTS), ou Organização para a Libertação do Levante, conquistaram as cidades de Aleppo e Homs e marcharam rumo à capital, que está mais ao sul. Outras frentes opositoras partiram do Sul e do Leste, numa tentativa de fechar o cerco a Damasco.


O HTS surgiu como uma filial da Al Qaeda, grupo por trás dos atentados do 11 de Setembro.

Por onde passaram, os rebeldes derrubaram estátuas que homenageiam Hafez al-Assad, pai do atual presidente e fundador da dinastia que está no poder há 50 anos, e tomaram bases militares.

Retomada da guerra

Entenda o que está acontecendo na Síria, que tem avanço de grupo rebelde

A guerra civil na Síria começou em 2011 e, nos últimos quatro anos, parecia estar adormecida. Após um período sangrento de confrontos, que deixaram cerca de 500 mil mortos e causaram um enorme êxodo de sírios, o ditador conseguiu manter o controle sobre a maior parte do território graças ao suporte da Rússia, do Irã e da milícia libanesa Hezbollah

No entanto, agora a Rússia está em guerra com a Ucrânia, e o Irã vive um conflito com Israel. O Hezbollah, por sua vez, perdeu seus principais comandantes neste ano, mortos em ataques israelenses.

Para os analistas, essa situação faz com que nem Putin nem o regime iraniano estejam dispostos a entrar de cabeça em mais uma guerra.

Um porta-voz do governo da Ucrânia disse que a escalada do conflito na Síria mostra que a Rússia não consegue lutar em duas guerras ao mesmo tempo.

Informações publicadas no sábado indicam que o Hezbollah e o regime iraniano estão retirando tropas que mantêm na Síria.


O cientista político Guilherme Casarões, da Fundação Getúlio Vargas, diz que não é uma coincidência a ofensiva ter sido lançada agora.

"Aqueles que eram os três principais aliados do governo Assad, Hezbollah, Irã e Rússia, estão meio que fora desse envolvimento direto com o conflito, o que abriu uma oportunidade para que os rebeldes tentassem retomar certas posições estratégicas dentro do país. Aleppo, sendo a segunda maior cidade da Síria, é o primeiro destino que eles ocuparam."

Segundo o professor, o acirramento do conflito pode ter consequências em todo o Oriente Médio. Se Assad cair, afirma ele, isso pode criar um vácuo de poder e escalar ainda mais as guerras que envolvem Israel, Hamas, Hezbollah e Irã.


Fonte: Da Redação do Blog com g1

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