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entrevista

Conversa com Fátima Sá: A Poesia do Sertão ao Litoral

A Jornada de uma Poeta Entre São José de Tapada e João Pessoa

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Foto: Fátima Sá, Ascom

Fátima Sá, uma talentosa poeta nascida em São José de Tapada. Ela residiu por um tempo em Sousa e atualmente vive em João Pessoa. Fátima pode ser considerada uma são-joseense, sousense e pessoense. Com uma trajetória marcada por sua paixão pela poesia, Fátima compartilha conosco seus desafios e inspirações no mundo literário.

Fátima relembra com carinho seus primeiros passos no mundo das letras, iniciados com a literatura de cordel. "Eu sou autodidata na questão da alfabetização, aprendi a ler com cordel que meu avô trazia da cidade," conta Fátima. Sua paixão pela literatura floresceu a partir dessas histórias simples e ricas em tradição popular, que mais tarde evoluíram para um profundo amor pela poesia clássica e moderna.

A poesia, segundo Fátima, é uma arte que vai além das palavras. "A poesia não é apenas um texto, é a ideia, como uma casa que você imagina antes de construir," explica ela. A poeta destaca a diferença entre a poesia técnica, como a de Fernando Pessoa e João Cabral de Melo Neto, e a prosa poética, onde a narrativa e a emoção se entrelaçam de maneira livre e fluida.

"Escrever poesia hoje é um desafio," admite Fátima. Ela enfatiza que, apesar da liberdade poética moderna, muitos ainda preferem a poesia rimada e simétrica. No entanto, a ausência de rima não significa ausência de critério. "A poesia sem rima é mais complicada de fazer porque exige um entendimento profundo do ritmo e das figuras de linguagem," afirma.

Publicar um livro de poesia é uma tarefa árdua, especialmente no Nordeste do Brasil, onde a divulgação é escassa. Fátima compartilha suas experiências com editoras e concursos literários, destacando a importância da persistência e da paixão pela escrita. "O problema maior não é só imprimir o livro, mas conseguir divulgá-lo e alcançar os leitores," diz ela.

Recentemente, Fátima participou da coletânea "Encanto Feminino," organizada pela poeta Porcina Furtado, que celebra a voz feminina no cordel. "Escrever cordel é uma técnica complexa, mas extremamente gratificante," revela Fátima, que se orgulha de trazer a perspectiva feminina para um gênero historicamente dominado por homens.

Seu mais novo trabalho, "Meu Sertão Entre Versos e Refrão," é uma obra que nasce das suas raízes sertanejas. "Esse livro é fruto de minhas aulas de literatura e de minha paixão pelo cordel," explica. A obra é um retrato poético do sertão, mesclando versos tradicionais com uma visão contemporânea e pessoal.

A conversa com Fátima Sá revela não apenas a trajetória de uma poeta, mas a essência de uma mulher resiliente e apaixonada pela literatura. Sua jornada desde os cordéis trazidos pelo avô até os livros publicados internacionalmente é uma inspiração para todos os que amam a poesia. "Escrever é resistir, é trazer a realidade à tona através das palavras," conclui Fátima.

Integra da entrevista

Paulo Pereira: Hoje, no blogdopaulopereira, temos a honra de conversar com a poeta Fátima Sá. Nascida em São José de Alagoa Tapada, ela residiu na cidade de Sousa e atualmente vive em João Pessoa. Fátima, podemos dizer que você é uma verdadeira são-joseense e pessoense. Vamos falar um pouco sobre literatura e poesia. Qual o maior desafio que você encontra hoje ao escrever?

Fátima Sá: Paulo, a poesia foi meu primeiro contato com a literatura. Eu sou autodidata, aprendi a ler com cordéis que meu avô trazia da cidade. Ele me contava histórias parecidas com as dos cordéis, e foi assim que me apaixonei pela poesia popular. No ensino médio, tive contato com poetas como Augusto dos Anjos, e isso ampliou meu interesse pela poesia clássica. O maior desafio que encontro hoje é manter a autenticidade na minha escrita, equilibrando a técnica com a emoção.

Paulo Pereira: Você mencionou que a poesia popular foi seu ponto de partida. Como foi essa experiência inicial?

Fátima Sá: Eu aprendi a ler com uma cartilha de ABC que minha avó comprou. Quando meu avô trouxe os cordéis, comecei a juntar letras e sílabas, e logo estava lendo essas histórias maravilhosas. Essa experiência foi fundamental para minha alfabetização e despertou meu amor pela literatura.

Paulo Pereira: Em sua trajetória, você falou sobre a diferença entre poesia técnica e prosa poética. Poderia explicar mais sobre isso?

Fátima Sá: Claro! A poesia técnica segue regras rigorosas de métrica e rima, como a de Fernando Pessoa e João Cabral de Melo Neto. Já a prosa poética é mais livre, permite uma narração contínua sem perder o fio da meada. Ela exige uma habilidade diferente, pois precisa manter a coerência e a estética sem as amarras da métrica tradicional.

Paulo Pereira: Você também mencionou a utilização de figuras poéticas em sua obra. Como isso se desenvolve em sua escrita?

Fátima Sá: As figuras poéticas são imagens que criamos para transmitir emoções e significados. Por exemplo, eu posso dizer "você é um ar condicionado" e isso abre espaço para várias interpretações. Na poesia moderna, usamos essas figuras para enriquecer o texto e engajar o leitor de forma mais profunda.

Paulo Pereira: A poesia contemporânea é muitas vezes considerada livre e isso causa controvérsia entre os adeptos da poesia clássica. Como você vê essa questão?

Fátima Sá: A poesia moderna, de fato, é mais livre e isso pode causar resistência entre os puristas. Mas eu acredito que essa liberdade permite uma expressão mais genuína e acessível. É mais fácil de fazer, mas também pode ser mais difícil de entender devido à ausência de pontuação e métrica rígida. É um campo vasto e rico, e o importante é a honestidade e a autenticidade na escrita.

Paulo Pereira: Falando sobre sua carreira, como está sendo o processo de publicação de seus livros?

Fátima Sá: Publicar é um desafio. Não é apenas sobre imprimir o livro, mas também sobre divulgação e participação em eventos literários. A falta de divulgação é um problema, especialmente no Nordeste. Participo de diversas academias e eventos para levar minha literatura adiante, mas é um caminho árduo.

Paulo Pereira: Fátima, você recentemente participou de uma coletânea organizada por Posina Furtado e lançou "Meu Sertão entre Versos e Refrão". Como foram esses projetos?

Fátima Sá: Participar da coletânea foi uma experiência maravilhosa. O cordel é uma forma de literatura muito rica e participar de uma obra que celebra a escrita feminina foi muito gratificante. Quanto ao "Meu Sertão entre Versos e Refrão", ele nasceu das minhas experiências e aventuras nas aulas de literatura. É uma obra que mistura poesia e prosa poética, refletindo minhas raízes e minha visão de mundo.

Paulo Pereira: Para encerrar, o que você diria aos novos poetas que estão começando?

Fátima Sá: Eu diria para nunca desistirem. Escrever é um ato de resiliência. É importante ser fiel a si mesmo e à sua visão. Participem de eventos, busquem aprendizado contínuo e, acima de tudo, escrevam com o coração. A poesia tem o poder de transformar vidas e o mundo ao nosso redor.

Paulo Pereira: Fátima, muito obrigado por compartilhar sua história e sua sabedoria conosco. Foi um prazer tê-la aqui no Blog do Paulo Pereira.

Fátima Sá: O prazer foi meu, Paulo. Agradeço a oportunidade de falar sobre minha paixão pela poesia e pela literatura.


Por Paulo Pereira

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