Estamos no último mês do ano, considerado o mais quente dos últimos 125 mil anos. Além dos sucessivos recordes de temperaturas, acidentes climáticos sucedem-se com cada vez mais frequência e intensidade, no Brasil e no mundo. A tendência, se mantida as agressões ao nosso planeta, é que a situação piore em uma velocidade mais rápida e coloque em risco a possibilidade de existência da vida humana e de milhares de outras espécies.
Nesse cenário, defender a justiça climática é primordial para garantir a perspectiva de um futuro possível, onde as possibilidades de viver uma vida digna e emancipatória seja compartilhada entre todos os habitantes do planeta Terra. Partindo desse princípio, a elaboração e implementação de políticas públicas devem tomar a justiça climática como elemento central e transversal, porque ela atravessa todos os temas essenciais que pautam a vida em sociedade: territórios, saúde, educação, redução das desigualdades, sustentabilidade econômica, etc.
Sabemos que as principais vítimas das tragédias ambientais são justamente as populações vulnerabilizadas, cujas demandas e necessidades são invisibilizadas ou mesmo solapadas pelo Estado. Observando-se o perfil das pessoas afetadas pelas emergências climáticas mais recentes do nosso país, como as enchentes no Pernambuco, Rio Grande do Sul, São Paulo, Alagoas e o crime ambiental cometido pela Braskem, em Maceió, constatamos que tratam-se de populações de periferia, em sua grande maioria composta por pessoas negras. Os desastres ambientais escancaram o racismo ambiental em voga em nosso país, sujeitando as pessoas negras e marginalizadas a descasos e violências de toda sorte.
O planejamento urbano de nossas cidades foi voltado, em primeiro lugar, para atender os interesses de grupos de elevado poderio econômico, em detrimento das camadas mais populares, empurradas para moradias insalubres e sem acesso às condições básicas de vida plena, como encostas de morros, beiras de rios e regiões isoladas dos centros das cidades. Defender a justiça climática é enfrentar o lobby de poderosos interesses econômicos e pensar em cidades inteligentes e integradas, com moradias dignas, acesso universal ao saneamento básico e oferta de insumos essenciais.
Por outro lado, o combate ao desmatamento e defesa da preservação de nossos biomas também devem integram o escopo de políticas de justiça climática. Aqui, cabe celebrar a atuação da ministra Marina Silva à frente do Ministério do Meio Ambiente, que só nesse primeiro ano de governo já conseguiu reduzir o desmatamento da Amazônia em 50%. No entanto, cabe alertar para as graves situações de outros biomas, como a Mata Atlântica, o Cerrado e a nossa caatinga, que está em processo de desertificação.
Na literatura econômica, está se consolidando um consenso de que a melhor forma de desenvolvimento de um país é investir nas suas potencialidades. Atento a isso, o Brasil tem uma chance enorme de se transformar em uma potência verde. Para isso, deve direcionar o orçamento do governo para práticas econômicas e sociais que se inserem nessa lógica, de sustentabilidade e inclusão. Não obstante, precisamos também cumprir o dever de encerrar os incentivos tributários e subsidiários para atividades que degradam o ambiente e perpetuam a desigualdade e a exclusão das classes mais pobres. O atual governo, mesmo comprometido com a agenda ambiental, ainda reluta em acabar com subsídios para combustíveis fósseis, motivo este para que a sociedade esteja atenta e pressione ainda mais por alternativas renováveis.
O intuito dessa primeira coluna é demonstrar que a luta por justiça climática ultrapassa a questão ambiental e se insere em todas as esferas da nossa vida, na medida em que só conseguiremos construir uma sociedade mais humana, justa, democrática e que respeite o direito de todas as populações quando a justiça climática for prática prioritária. Voltar o olhar do governo para as práticas sustentáveis, que preconizam o bem-viver e abandonam a lógica do produtivismo desenfreado que esmaga o planeta e a vida humana é o que deve nortear o debate público e as nossas aspirações mais urgentes. Defender a justiça climática é, sobretudo, defender o fim de todas as formas predatórias de exploração, contra as pessoas e todas as outras formas de vida.
Esta coluna inaugural abre um espaço onde discutiremos política e sociedade, no âmbito local e regional, sempre atento às literaturas científicas e melhores práticas. Espero que esse diálogo seja proveitoso para quem lê e para quem escreve.