Enquanto as luzes coloridas adornam as ruas e as famílias se reúnem em celebração, uma reflexão sobre o verdadeiro espírito do Natal torna-se inevitável. Imagine, por um momento, se a Sagrada Família - José, Maria e o Menino Jesus - fosse negra e vivendo na pobreza. Como seria essa representação, especialmente para nós, brasileiros, que associamos muitas vezes o rosto das famílias carentes ao nosso cotidiano?
A figura da Sagrada Família, uma família humilde, subverte as imagens clássicas que frequentemente vemos nos presépios. Essa representação alternativa nos desafia a repensar nossas percepções sobre a divindade e nos convida a encontrar o divino na simplicidade, na humildade e na diversidade.
No Brasil, onde a maioria das famílias pobres carrega consigo a marca de uma herança miscigenada, a visão de uma Sagrada Família negra ressoa profundamente. Essa imagem nos lembra que a sacralidade não está confinada a certos padrões étnicos ou classes sociais, mas transcende todas as barreiras, refletindo a riqueza da diversidade brasileira.
Ao contemplar uma representação mais próxima da realidade brasileira na cena do nascimento de Jesus, somos chamados a abraçar o verdadeiro significado do Natal. É um chamado à empatia, solidariedade e compaixão, reconhecendo que o divino pode se manifestar nos lugares menos esperados e nas pessoas que muitas vezes são marginalizadas pela sociedade.
Enquanto nos envolvemos nas festividades, é crucial lembrar que, assim como a Sagrada Família enfrentou desafios, muitas famílias brasileiras enfrentam lutas diárias. A desigualdade social, a falta de oportunidades e a discriminação racial são obstáculos reais que requerem nossa atenção e ação.
Ao celebrarmos o Natal, que possamos, de coração aberto, acolher a representação de uma Sagrada Família negra e pobre em nossas mentes e corações. Que esse exercício de imaginação nos inspire a agir em prol de um Brasil mais inclusivo, justo e solidário. Que o verdadeiro espírito natalino nos motive não apenas a trocar de presentes, mas a compartilhar amor, compreensão e esperança com todos, independentemente de sua cor, classe social ou origem. Assim, o Natal se torna mais do que uma festa; torna-se uma oportunidade para transformar o mundo ao nosso redor.
Por Paulo Pereira
Professor / ACS