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opinião

Por que ainda estamos aqui?

O Oscar brasileiro e a luta pela democracia.

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No último domingo, o Brasil – do carnaval, das manifestações culturais e da incessante batalha pelo fim das desigualdades – viu-se, pela primeira vez, vencedor do Oscar. O prêmio, concedido anualmente pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, foi para Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles e estrelado por Fernanda Torres e Selton Mello. Mais do que uma vitória cinematográfica, a conquista tornou-se um símbolo de resistência, escancarando as tensões políticas e culturais que assolam o país.

O Brasil vive tempos sombrios. Nos últimos anos, assistimos a um desapego progressivo das instituições democráticas, um ataque sistemático à cultura e um crescente repúdio à diversidade por parte de uma parcela da população que se autodenomina patriota, mas que, na prática, rejeita os pilares fundamentais da democracia. A vitória de Ainda Estou Aqui não foi apenas um reconhecimento do talento nacional, mas também um espelho das feridas abertas na sociedade brasileira – e, como esperado, inflamou os ânimos dos que não aceitam a pluralidade e o Estado Democrático de Direito.

Ainda Estou Aqui não é apenas um longa-metragem premiado. Ele se tornou um marco, uma obra que reflete as contradições do país. A narrativa densa e provocativa, centrada na luta de personagens marginalizados pela sociedade, fez com que o filme extrapolasse a arte e adentrasse o campo da política e da identidade nacional.

Não é surpresa que a premiação tenha sido recebida com entusiasmo por grande parte dos brasileiros. No entanto, também gerou reações ferozes dos setores mais reacionários, que enxergam a cultura como uma ameaça, em vez de um patrimônio. Esses mesmos setores que, ironicamente, se autodenominam defensores da pátria, mas atacam aquilo que torna o Brasil único: sua pluralidade, sua arte, sua liberdade de expressão.

Nos últimos anos, o país tem testemunhado o fortalecimento de um discurso negacionista e antidemocrático que rejeita a cultura como elemento essencial da identidade nacional. Artistas são tratados como inimigos, a produção cultural é alvo de censura e a história brasileira é reescrita para atender a uma narrativa de exclusão e autoritarismo.

A vitória de Ainda Estou Aqui revelou, mais uma vez, o ódio daqueles que não toleram as diferenças. Pessoas que atacam um filme apenas por ele abordar temas como desigualdade, violência e resistência. Mas o que essas críticas escancaram é o medo: medo de um Brasil que não cabe em suas visões estreitas, medo de um país que resiste, que insiste e que se recusa a ser calado.

A pergunta do título desta coluna poderia ser uma reflexão existencial, mas também é uma afirmação de luta: por que ainda estamos aqui? Porque resistimos. Porque a arte nos mantém vivos. Porque a cultura é um ato político. Porque, apesar das tentativas de apagamento, seguimos criando, ocupando espaços e reafirmando nossa identidade.

O Oscar conquistado pelo Brasil não é apenas um troféu dourado. Ele é um grito. Um lembrete de que, enquanto houver cinema, música, literatura e teatro, haverá resistência. Enquanto houver histórias sendo contadas, haverá esperança. Enquanto estivermos aqui, a democracia, mesmo ferida, continuará respirando.

E que venha o próximo filme, o próximo prêmio, a próxima batalha. Afinal, ainda estamos aqui. E não vamos a lugar nenhum.

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